sábado, 1 de janeiro de 2011

Etnia e ocorrência de casos na família aumentam risco de contrair câncer de próstata


Por Miguel Srougi *


As causas do câncer da próstata são ainda desconhecidas, sendo certo que todos os homens nascem com genes nocivos chamados "proto-oncogenes", que dão a ordem para uma célula normal se transformar em outra maligna. Isso só não ocorre indiscriminadamente porque a função dos proto-oncogenes é antagonizada por outro grupo de genes protetores, chamados de "supressores", dos quais os mais conhecidos são o p53 e o p21. Esses genes promovem o suicídio das células toda vez que elas sofrem um processo de degeneração maligna, num fenômeno conhecido como apoptose.

O câncer da próstata surge porque com o decorrer dos anos acumulam-se perdas dos genes supressores, o que libera a atividade dos proto-oncogenes e permite a degeneração maligna das células prostáticas.

De forma interessante, pesquisadores da Universidade Johns Hopkins dos Estados Unidos sugeriram, recentemente, que a transformação maligna das células prostáticas talvez seja estimulada por micro-organismos desconhecidos ou proteínas estranhas. Ao penetrarem na próstata esses elementos desencadeiam um quadro de inflamação na glândula, que ativa os genes indutores do câncer. Uma procura frenética desses possíveis agentes nocivos encontra-se em andamento, o que prenuncia a descoberta iminente de medidas que poderão prevenir ou atenuar a evolução da doença.

Fatores de risco

Duas condições aumentam os riscos de se contrair o câncer da próstata: a etnia e a ocorrência de casos na família.

A frequência desse tumor é 70% menor em homens orientais, mas essa diferença quase desaparece quando orientais migram para o Ocidente, sugerindo que influências ambientais, dieta e estilo de vida também estão associados à instalação da doença. Por outro lado, negros têm o dobro da incidência de câncer da próstata e neles o tumor costuma ceifar mais vidas.

Conquanto a transmissão hereditária de genes mais agressivos possa explicar essa propensão, estudos recentes patrocinados pela American Cancer Society sugerem que, nos Estados Unidos, esse comportamento também está relacionado com marginalização social e menor acesso dos negros aos programas de diagnóstico precoce e aos tratamentos curativos. Fenômeno perverso que, possivelmente, se repete numa sociedade tão injusta como a nossa.

Sabe-se, há muito, que a incidência do câncer da próstata aumenta, respectivamente, de duas, três e cinco vezes, quando um, dois e três parentes de primeiro grau (pai ou irmão) são portadores do mal. Nos casos hereditários o tumor manifesta-se em idades mais precoces, muitas vezes antes dos 50 anos. Por isso, homens com histórico familiar devem realizar exames preventivos anuais da próstata a partir dos 40 anos de idade e não após os 45 anos, como se recomenda para todos os homens.

Obesidade e vasectomia, lembrados como possíveis causadores do câncer da próstata, não parecem ter vínculo direto com a doença. Contudo, homens obesos atingidos pelo tumor costumam apresentar doença mais grave e, com isto, evoluir de forma mais desfavorável.

* Miguel Srougi é professor titular de urologia da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) e pós-graduado em urologia pela Harvard Medical School, em Boston

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